domingo, 30 de dezembro de 2012

Autoconhecimento e mediação de conflitos


Leuzene Salgues
            Muitas pessoas apresentam dificuldades em lidar com situações de conflito e ficam sem saber como agir diante delas. Algumas permanecem inertes, outras se contaminam com o padrão de discórdia e tomam partido de alguém, e poucas agem no sentido de auxiliar na resolução do conflito instalado.
            Para que possamos lidar melhor com esse tipo de contexto é preciso refletir qual é a nossa postura diante dos nossos próprios conflitos, como, por exemplo, os relacionados à própria aparência, ao modo de se relacionar com as pessoas, às responsabilidades profissionais, à afetividade, ao dinheiro, à aquisição de conhecimentos, entre outros.
            Em auxílio à identificação e reeducação dos aspectos imaturos que geram os conflitos pessoais, a Conscienciologia propõe a autopesquisa como estratégia de autoconhecimento. Para tanto, a consciência interessada há de construir estratégias pessoais de autoinvestigação, acompanhamento e registro de todos os desconfortos que sentir, estejam eles relacionados a si, a outros ou aos contextos nos quais se manifestam.
            A análise dos registros pessoais irá contribuir para a elaboração do autodiagnóstico, ou seja, a identificação dos aspectos que geram conflito e o motivo pelo qual os desconfortos existem. A partir disso, é possível levantar as autoprescrições, estratégias de autoenfrentamento rumo à superação dos desconfortos identificados.
        Por exemplo, o conflito com a aparência geralmente está relacionado à baixa de autoestima, necessidade de aceitação social ou submissão aos padrões de beleza das modelos e artistas famosas e bem sucedidas. Para resolver o conflito, quando possível, busca-se a transformação da aparência ou investe-se na autoaceitação e na valorização pessoal a partir de atributos que não sejam apenas os estéticos.
            No caso do conflito com algo ou alguém, o foco não deve ser em querer fugir, evitar ou mudar o que causa o desconforto, mas a análise dos sentimentos e pensamentos que surgem diante da situação ou objeto indesejado. Por exemplo, quando não sabemos bem o motivo de não simpatizarmos com alguém, precisamos analisar o que sentimos e pensamos quando nos encontramos com essa pessoa. É preciso encontrar a solução em nós e na maneira de superar o antagonismo ao invés de querer que o outro mude, porque o desafio maior do conflito interpessoal é a aceitação das diferenças.
            Algumas questões que ajudam no autodiagnóstico: tem fundamento o que eu estou sentindo? Estou sendo preconceituoso(a)? Eu consigo enxergar, no mínimo, três valores nessa pessoa? O que de fato me desagrada nela? Há algo nela que eu gostaria de ter e não tenho? Há algo nela que eu tenho e não gosto de ter? O que posso fazer para não me sentir assim?
            Muitas vezes, a pessoa alvo de nosso desconforto nem sonha que é objeto de conflito de alguém, por isso, o processo de mudança precisa ser na maneira de enxergá-la, sem antagonismos. Aceitar as diferenças não significa concordar com o outro ou ter que mudar de opinião, mas reconhecer que o outro tem o direito de ser diferente de você.
            No caso da convivialidade, ao modo do ambiente familiar ou de trabalho, nos quais passamos muitas horas e há objetivos comuns entre as pessoas, é imprescindível recorrer à resolução dos conflitos pela negociação, que tem como ferramenta o diálogo franco e sincero, colocando os objetivos comuns acima dos interesses pessoais ou imposição da vontade ou do poder de um sobre o outro. No entanto, para que haja a superação do conflito, todos os envolvidos precisam querer a resolução do mesmo.
            Às vezes, a negociação fica comprometida ou torna-se inviável em função dos sentimentos de hostilidade entre as partes envolvidas no conflito. Nessas situações, e se as partes desejarem, é possível recorrer à mediação, ou seja, escolher alguém para mediar o conflito. O mediador precisa ser imparcial e ético para não se envolver emocionalmente com alguma das partes e ser tendencioso na mediação.
            O autoconhecimento auxilia na atuação dos mediadores e os ajuda a reconhecer, pela experiência pessoal, o esforço necessário à autorreflexão e ao abrir mão de algo em prol do bem comum. Desse modo, o mediador autopesquisador atua imparcialmente, oportunizando vez e voz a todos e contribuindo no aprofundamento das reflexões e na busca da melhor solução que os próprios dialogantes precisam encontrar.

Leuzene Salgues é pedagoga, também pesquisadora e voluntaria da Intercampi.

Fonte: Site da Intercampi, postado em 23/setembro de 2009.

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