terça-feira, 5 de março de 2013

Nísia Floresta: 200 anos de vanguardismo



Rute Pinheiro
            Há duzentos anos, no dia 12 de outubro de 1810, nascia em Papari, hoje município de Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte, uma mulher admirável e ousada, com ideias muito à frente do seu tempo – Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida como Nísia Floresta Brasileira Augusta.
            Filha de Dionísio Gonçalves Pinto e Antonia Clara Freire, Nísia teve apenas dois filhos, Livia Augusta e Augusto Américo, frutos do seu relacionamento com Manuel Augusto de Faria Rocha, o grande amor da sua vida.
            Esta brasileira, adjetivo por ela mesma adotado no seu pseudônimo, apresentava desde jovem uma ampla cultura, ideias invulgares e coragem de defender publicamente, em conferências, publicações de jornais ou livros, seus posicionamentos abolicionistas, indigenistas, republicanos e em prol da valorização da mulher através da educação, o que a fez ser considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil. Estas suas ideias vanguardistas podem ser verificadas em várias de suas obras, dentre as quais seu primeiro livro Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, publicada quando tinha 22 anos, tradução livre de A Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft.
            Após sair de Papari, residiu também em Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, no Brasil, e em alguns países europeus, tais como Portugal, Itália e França, onde morreria, em 24 de abril de 1885. Em 1954, seus restos mortais foram trasladados para o Rio Grande do Norte e enterrados em Nísia Floresta. Visitou ainda outros países na Europa, em viagens descritas de tal forma que levam seus leitores a viajarem junto com ela, nos livros Itinerário de uma Viagem à Alemanha e Três Anos na Itália, Seguidos de uma Viagem à Grécia.
            Mesmo depois de vários anos da sua morte, conforme citado por Constância Duarte, uma das maiores pesquisadoras sobre Nísia Floresta, no seu discurso de recebimento do título de cidadã honorária do RN, Nísia continuava surpreendendo plateias ávidas em conhecer mais a seu respeito, em Lisboa, Madrid, Buenos Aires, Londres, Paris, Varsóvia, Cracóvia, New Orleans e Nova York, algumas das cidades que sediaram congressos nos quais ela falou de nossa escritora.
            No Colégio Augusto, no Rio de Janeiro, Nísia aplicava uma pedagogia de vanguarda, trazendo inúmeras inovações ao ensino feminino, tais como o ensino de línguas, gramáticas e literaturas, Geografia e História, prática de Educação Física, e limitação do número de alunas, divergindo de outros estabelecimentos voltados para a educação feminina, assim como da política governamental da época, onde estes conhecimentos não eram considerados prioritários na educação da mulher.
            Nísia Floresta teve um total de 15 obras publicadas, algumas com edições em português, francês, italiano e inglês, dentre as quais ressaltamos Conselhos a Minha Filha, com quatro publicações, sendo duas em português, uma em italiano e uma em francês.
            Segundo a Conscienciologia, o estudo de biografias de personalidades históricas como Nísia Floresta nos ajuda no processo de autoconhecimento, uma vez que ao analisarmos os traços do biografado podemos refletir sobre qual percentual destas características nós já temos desenvolvido em nós mesmos ou não.
            Nísia Floresta pode ser considerada uma mulher de cultura invulgar, energia inquebrantável, autodidatismo, poliglotismo, audácia, ousadia, agudeza, assistencialidade, vanguardismo, lucidez, poder descritivo, cultura polimorfa, determinação, fraternismo, dentre outros traços marcantes.
            Se uma mulher, numa época em que mulher não tinha sequer direito à educação igualitária, nem muito menos direitos políticos, conseguia se posicionar e defender publicamente seus ideais, vale a pena refletirmos quanto às nossas posturas e posicionamentos, no atual contexto em que estamos inseridos, com a facilidade de acesso às informações e liberdade de expressão que temos. Quantos de nós sequer assumimos as responsabilidades perante nós mesmos, nossa evolução, ou nos preocupamos em contribuir para melhorar a realidade da cidade, do país ou do planeta em que vivemos?
            Nísia, uma potiguar do século XIX, fez com que suas ideias repercutissem na Europa, para a abolição da escravatura no Brasil, como relatado em Duarte (1995), “tais apelos de Nísia Floresta, escritos em francês e em italiano, com circulação entre os mais altos intelectuais da Europa, contribuíram para preparar a intervenção da Junta Francesa de Emancipação, em 1866, junto ao Imperador, pedindo-lhe a abolição da escravatura no Brasil”.
            E você, leitor ou leitora, já parou para observar seus traços pessoais e utilizá-los em prol de você mesmo ou do seu próximo? Se não assumirmos nossos traços pessoais, nossas potencialidades, e nos posicionarmos perante a vida e a evolução, seguiremos à deriva, no rumo do que os outros decidirem. Na vida, se você não decide, alguém decide por você.
            Nísia Floresta foi sem dúvida uma grande personalidade do século XIX, e o seu trabalho de educação e busca de conscientização da sociedade da época pode-se considerar excepcional, tendo contribuído com muitas das lutas as quais defendeu.
            Agora, cabe a cada um de nós, personalidades do século XXI, contribuir com nossos melhores pensamentos, sentimentos, energias e ações para um mundo melhor, e assim, a exemplo de Nísia Floresta, conseguirmos gerar repercussões não apenas em países, mas no cosmos, em prol do desenvolvimento de uma humanidade mais fraterna e universalista.
Rute Pinheiro é Bióloga, professora e pesquisadora da Conscienciologia e voluntária do INTERCAMPI

Fonte: Site da Intercampi postada em 07/outubro de 2010.
http://intercampi.org/2010/10/07/artigo-nisia-floresta-200-anos-de-vanguardismo/

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